domingo, 29 de setembro de 2024

Bolhas de difícil penetração.


Mais uma semana e mais um domingo com a análise de algum cenário do nosso cotidiano.

Em poucos dias, votaremos nos futuros representantes de nossas cidades. É uma época marcada por brigas nas ruas, onde os políticos se tornam ídolos da torcida, torcida essa que financia diretamente fulanos e ciclanos para exercerem tais cargas. Com esse contexto, começo o post de hoje com a seguinte pergunta: você está em uma bolha?

POLÍTICOS JOGANDO BOLA (IMAGEM FEITA POR IA)
Pelas ruas de Fortaleza, assim como em todo o país, seguem sendo comuns as passagens de campanhas de determinados candidatos, onde se reúnem milhares de pessoas que dedicam seu tempo à candidatura de seu político favorito, que muitas vezes possui caráter extremamente duvidoso. Essas mesmas pessoas, que colocam tais políticos em pedestais, muitas vezes permanecem em bolhas de difícil penetração, em que o simples ato de questionar esses políticos se torna tão ofensivo quanto um xingamento a um familiar. Preocupa-me pensar como a mente humana consegue criar laços de forma quase religiosa com tais pessoas, principalmente depois do boom dos últimos 10 anos.

PRESIDENTE DILMA CHORANDO (IMAGEM FEITA POR IA)

Recapitulando os últimos dez anos: a queda do PT com o impeachment de Dilma, o surgimento da direita comandada por Bolsonaro, ele se tornou presidente, Lula preso, Bolsonaro ganhando eleito em tempo recorde durante a pandemia, e, depois de alguns anos, Lula assumindo o poder novamente.

Esse recorte resume um Brasil como um giro de 360 ​​graus, retornando ao que estava inicialmente. Porém, com um novo revés: uma polarização massiva de extremismos.

Com a recente polarização no país, vimos as brigas de torcedores transformarem debates inicialmente interessantes em slogans simplistas. Quem nunca jogou "A direita quer matar os pobres" ou "A esquerda só quer defender bandidos"? Ambas representam ideologias diferentes, mas com o mesmo modus operandi. Esse reducionismo atrapalha qualquer nível de inteligência nos debates, pois vence quem tem a maior torcida, quem consegue mobilizar melhor as massas, sejam elas minorias ou grupos religiosos. No fundo, o que está em jogo é a quantidade de apaixonados por determinada figura.

Ao assistir a qualquer debate entre os candidatos nas cidades brasileiras, percebemos que ainda conseguem reduzir o nível e transformar algo sério e respeitoso em algo infantil. Em São Paulo, a cidade mais importante do Brasil, posso observar um compromisso ainda menor com propostas e projetos; a "cadeirada" resume melhor tudo que eu poderia dizer.

 TV CULTURA

Vale salientar que, antes da cadeirada, Marçal acusou Datena de violência sexual, algo do qual foi judicialmente inocentado. Os candidatos à prefeitura tumultuaram todos os debates, seja com agressões verbais ou físicas, fazendo vídeos para cortes em redes sociais, sem realmente exporem os motivos pelos quais mereçam os votos, além de suas coligações e frases de impacto. Descobriram muito cedo o que a população gostaria de ver nos debates, pois temas complexos pouco cativaram a população em geral, que agora veem na política uma nova forma de espetáculo.

Voltando a falar de forma mais ampla, dentro desses debates, quem perde é o eleitor, que se torna tão bestializado ao ponto de arranjar brigas com amigos e familiares defendendo seus políticos, tratando-os como ídolos de seus tempos. Entrar em debates com pessoas ideologicamente atrofiadas é uma experiência verdadeiramente lamentável, pois não há abertura para novas ideias; não há como analisar a coerência de nada, e a conversa se torna uma disputa de papagaio de quem grita mais alto ou xinga mais pesado.

Digo isso porque, recentemente, me envolvi em uma discussão em que o principal argumento do meu opositor era que eu seria um "pobre fudido fracassado" e que eu deveria agradecer a política do espectro dele, se não nem vivo eu estaria. Tudo isso vem de alguém que não entende nada sobre assuntos políticos e reduz tudo a slogans. Essa experiência, de certa forma, me abriu os olhos sobre aquela pessoa específica, mas lamento muito que a carência dela seja suprida com o ad hominem mais baixo.

CRIANÇA CHORANDO(IMAGEM FEITA POR IA)

A dificuldade de furar barreiras para um diálogo saudável é extrema quando se trata de alienados políticos, pessoas que, infelizmente, não aceitam opiniões diferentes e se fecham em uma bolha artificial que gera conforto. Para essas pessoas, seus candidatos são santificados ao ponto de não serem vistos como humanos, e, portanto, precisam ser defendidos com fervor por sua legião de fãs.

Uma mente aberta transforma conversas simples de bar em diálogos verdadeiros e libertadores. Claro que nem todos oferecem romper sua própria visão, pois a aprovação de determinados grupos os mantém relevantes; porém, o esforço ainda se torna necessário, seja para incomodar ou para denunciar o quão ruim aquela postura é, comparando-a a alguém tão infantil quanto uma criança chorando por não ganhar o brinquedo que deseja.

Se deixo um recado para quem ler até o final: não se venda ao mais fácil. Proponha-se a questionar tudo e entenda bem o que você representa e o que você é contra. Não seja mais uma marionete da política; estudo ao máximo sobre seus temas. Quando tiver diante de um debate, não seja o primeiro a brigar, mostre sua capacidade em argumentar e entender o outro lado, só use de linguagem agressiva quando passar do controle primeiro, mas nunca impute crimes e nem use familiares ou a honra de alguém como motivo para chacota, seja homem e defenda suas ideias com respeito.

Obrigado pela leitura e boa semana.



"A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original".  

-Alberto Einstein